Religião X Movimento LGBT+

Aparecida Rosa e Rebeca Cristina
9 de out. de 2017
4 min de leitura

Um dos temas presentes na atualidade é reconhecido pela sua complexidade e pluralidade é o movimento LGBT+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e mais) que está em pauta levantando discussões sobre ações de combate à discriminação e promoção da cidadania para esta minoria. Uma das questões de luta desse movimento é a rejeição à homossexualidade e questões de gênero por algumas instituições religiosas.

Ao longo da história religião e homossexualidade travam uma relação conflituosa levando ao debate interpretações sobre o que é natural ou não, o que é pecado, o que é sagrado, o que se considera de acordo com a moral e os bons costumes, baseados em suas convicções religiosas.

Determinados segmentos religiosos desqualificam e combatem a diversidade sexual possibilitando a exclusão o preconceito e a discriminação dessa população. Numa sociedade violenta e desigual as religiões se apresentam como a escolhida, a redentora que vem trazer a paz, o acolhimento, agem cuidando da alma, e do espírito dos fiéis com discursos religiosos, provocando reações conservadoras de diferentes vertentes da fé cristã.

A relação entre diversidade sexual e religião varia em determinados tempos e lugares. Ao longo da história, o amor e o sexo entre homossexuais (especialmente homens) eram tolerados e também instituídos em rituais religiosos, na Antiguidade em diversas sociedades, as relações entre homens era praticada. A posição oficial da Igreja quanto a homossexualidade racionalizou-se com os escritos de Santo Agostinho, em que os órgãos reprodutivos tinham a finalidade natural de procriação e em nenhuma hipótese poderiam ser usadas para outra forma de prazer, sendo a homossexualidade reprovada pela maior parte das tradições cristãs. Durante a Idade Média, a homossexualidade foi totalmente perseguida pela igreja.

A Igreja Católica e seus dogmas consideram a prática homossexual como um comportamento inaceitável, contrárias às leis de Deus e da natureza. Em obediência aos preceitos estabelecidos pela Igreja, a sociedade cristã adota esse pensamento como correto e condena a prática homoafetiva, o que se tornou motivo de preocupação no que diz respeito a intolerância, pois através da influência religiosa há um crescimento discriminatório por ser considerado um comportamento impuro. A Bíblia revela os propósitos de Deus e dar um valor especial a humanidade.

A igreja utiliza das passagens bíblicas para interpretar e repudiar as práticas homossexuais, que se encontra no Antigo Testamento nos textos do livro de Gênesis. Embora esse assunto seja tratado na bíblia ela traz advertências pertinentes quanto a prática sexual com o objetivo voltado para a procriação. O propósito de Deus em relação ao casamento homem e mulher está em Gênesis 2.24 e repetido nos evangelhos. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem (Gn 1.26) de modo a se tornarem um (Gn 2.24) num compromisso que deve durar a vida toda num relacionamento de exclusividade e formação de novas famílias. Com base no fundamento bíblico a Igreja consegue influenciar certos grupos sociais condenando as práticas homossexuais e essas influências fortalecem o preconceito e a violência.

Esses dilemas dentro das igrejas evangélicas/protestantes são mais complexos devidos a grande diversidade de segmentos e denominações, pois um dos princípios do protestantismo desde o seu surgimento, é a livre interpretação da Bíblia Sagrada. No início as igrejas protestantes, seguiu por muito tempo a tradição da Igreja Católica de condenar as práticas homossexuais. Porém, com a livre interpretação e as transformações na sociedade, em 1960, surge a Teologia Inclusiva.

A Teologia Inclusiva, prega sobre tudo, o amor de Deus a todas as pessoas. As igrejas adeptas desta teologia abraçam a diversidade humana e tem seu discurso voltados para a inclusão das minorias marginalizadas da sociedade como negros, mulheres e LGBT+. A primeira igreja inclusiva no mundo, foi fundada em 1968 nos Estados Unidos, a Igreja da Comunidade Metropolitana.

No Brasil, há um grande crescimento das igrejas inclusivas e a que mais se destaca é a Igreja Cristã Contemporânea, fundada no Rio de Janeiro, em 2007 no bairro da Lapa, porém com o crescimento no número de membros, foi necessário encontrar um novo local para as realizações dos cultos, então em 2011 no bairro de Madureira foi inaugurado o novo templo, com capacidade para 800 pessoas. Atualmente, a Igreja Cristã Contemporânea possui congregações espalhadas pelo Rio de Janeiro, São Paulo e em Minas Gerais, somando no total 10 filiais.

Nem todas as religiões e seus diferentes segmentos são intolerantes quanto a homossexualidade, como as religiões afro-brasileiras que abraçam e acolhem as pessoas LGBT+, afirmando a diversidade sexual e de gênero. Isso ocorre, pois, religiões afro-brasileiras, os papéis sociais de gêneros são bem diversos, além de conter histórias de homoafetividade e não conformidade de gênero em sua mitologia.

A fé e religião são interpretações de acordo com cada pessoa que se faz acreditar nos valores que se considera corretos. Ser LGBT+ não significa que não possa seguir os valores religiosos. Os princípios morais variam de religião para religião. Os movimentos LGBT+ buscam inclusão de seus princípios na sociedade para que seja aceito. O mundo é diverso e cada indivíduo tem direito de seguir os valores que acharem corretos.

Referência:

http://ladobi.uol.com.br/2015/05/candomble-hinduismo-budismo-siquismo/
http://www.gepsexualidades.com.br/resources/anais/6/1467404893_ARQUIVO_TEXTOCOMPLETO4.SEMIN.INTERN.EDUCACAOESEXUALIDADE.pdf
https://amandamedeiiros.jusbrasil.com.br/artigos/255042093/a-evolucao-historica-da-intolerancia-a-homossexualidade
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922012000200005&script=sci_arttext&tlng=es
http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2008/relatorios/ccs/ser/ser_sandra_regina_de_souza_marcelino.pdf
https://tab.uol.com.br/gays-e-religiao/
http://www.igrejacontemporanea.com.br/site/quem-somos/historia.html
http://www.redepsi.com.br/2008/11/26/consequ-ncias-biol-gicas-psicol-gicas-familiares-e-s-cio-culturais-do-homossexualismo/